Thessa Guimarães, Raoni Machado Moraes Jardim
Este texto aborda o trabalho do coletivo brasiliense Psicanálise na Rua e reflete sobre a passagem da psicanálise dos consultórios para espaços públicos, desdobrando ideias presentes em Freud, Lacan, Adorno e outros. Enfatiza-se a dimensão sociopolítica do sofrimento como fundamental para uma escuta e formação psicanalíticas críticas. O atual momento político do Brasil, caracterizado pela implosão das instituições democráticas, agudiza os quadros de vulnerabilidade social e desamparo psíquico, tornando latente um engajamento da psicanálise na denúncia desse cenário e na lida com suas consequências. Para isso, refletimos sobre a posição ocupada em geral por psicanalistas na estrutura socioeconômica, observando suas consequências na relação analítica. A literatura psicanalítica crítica contemporânea já problematiza a dimensão de classe em sua práxis; aqui pretendemos também relevar a dimensão de crítica epistêmica que uma psicanálise pública envolve, colocando o desafio de ampliar leituras e escutas a sujeitos subalternizados historicamente. Tal dialética epistêmica entre psicanálise e sociologia busca elaborar formas possíveis de democratização da psicanálise – tanto do acesso ao tratamento quanto da própria formação de psicanalistas.