Isabel María Paraíso Faria Lopes, Florencio Vicente Castro
Houve tempos em que os profissionais da Administração Pública gozaram de uma descomprometida estabilidade laboral.
Porém, as constantes e inexplicáveis metamorfoses dos mercados financeiros sobre as dívidas soberanas provocaram, nos últimos anos, um clima de imprevisibilidade e incerteza nunca antes pressuposto. Em sucessivo e ingovernável propósito, as medidas de austeridade têm sido implementadas sem que, em momento algum, se avaliem riscos ou quantifiquem repercussões para o Ser Humano. Os comportamentos e atitudes dos colaboradores só podem ser compreendidas se atendermos aos contextos em que os mesmos ocorrem. É o contrato psicossocial que, no dia-a-dia, orienta as relações de trabalho. Nos estudos que temos realizado desde 2010 percebemos que é claro o desequilíbrio na relação entre os sujeitos e as organizações. Os resultados das investigações empíricas revelaram que, mais que uma rutura do contrato psicológico entre os colaboradores do Estado e as organizações onde exerciam a sua atividade, havia claras evidências de um estado de resiliência. Sob o paradigma da interpretação hermenêutica enveredamos por uma metodologia que nos permita alcançar a perspetiva dos sujeitos do estudo, em pleno território da semântica, que se concretiza através de métodos característicos da pesquisa qualitativa. Numa abordagem própria dos estudos longitudinais, realizámos entrevistas aos participantes de um estudo piloto de 2011. Cremos estar perante uma descaracterização do serviço público que já extravasa as consequências de ausência de recursos que os constrangimentos financeiros determinaram. Antes, constata-se o predomínio de comportamentos desajustados, sentimentos de profunda injustiça, climas de desconfiança mútua, … fragmentação de identidades pelo condicionamento psicológico.
There were times when Public Administration employees enjoyed uncommitted job stability. However, the constant and inexplicable metamorphoses of the financial markets regarding sovereign debt have, in recent years, led to a climate of unpredictability and uncertainty which has never been supposed before. With a never-ending and ungovernable objective, the austerity measures have been implemented without ever assessing the risks or quantifying the repercussions on the Human Being. The employees’ behaviours and attitudes may only be understood if we consider the contexts in which they occur. It is the psychosocial contract which, in everyday life, guides work relationships. In studies carried out since 2010 we have come to realize that there is a clear imbalance in the relationship between the individuals and the organizations. The results of empirical research have revealed that besides noting a rupture of the psychological contract between the State employees and the organizations where they carried out their functions, there was clear evidence of a state of resilience. Under the paradigm of hermeneutic interpretation we followed a methodology which allows us to reach the perspective of the study subjects, in a clearly semantic field, and which was carried out using methods that are characteristic of qualitative research. In an approach found in longitudinal studies, we conducted interviews with the participants of a pilot study in 2011. We believe there is a perversion of the public service which already goes beyond the consequences of a lack of resources which the financial constraints have determined. Instead, there is the prevalence of inappropriate behaviours, feelings of profound injustice, environments of mutual distrust, fragmentation of identities due to psychological limitation.