A partir da constituição de 1988, o Brasil passou a construir políticas sociais mais sólidas e extensivas. Muitas delas contam com a presença do psicólogo na sua execução. Como políticas públicas são voltadas para grandes populações, passou-se a demandar do psicólogo brasileiro outra abrangência na intervenção profissional a ser adotada, uma vez que o atendimento individual não seria de largo alcance. Com este artigo queremos chamar atenção para a importância de uma torção ético-político-metodológica nos modos individualizados e despolitilizados de inscrição das práticas do psicólogo no trato com os processos coletivos, constituintes da vida e do viver. Quando pensamos as práticas profissionais sob um viés tecnicista, entendendo a técnica como mera aplicação do conhecimento, no qual a competência torna-se um atributo individual vinculado ao domínio de conhecimentos e habilidades, as destituímos de seu caráter de produção social. Trata-se, então, de um fazer clínico que se volte ao processo de intervenção que se afirma na indissociabilidade entre pensamento e vida, entre invenção de si e de mundo. E traz, para o debate sobre o fazer do psicólogo, o desafio teórico-metodológico de construção de práticas profissionais que incluam o cotidiano dos usuários e dos serviços de saúde, seus desafios e suas relações com os modos de viver, de fazer o cuidado e a gestão.