O percurso das ideias de Gilberto Freyre (1933;1952) em Portugal não se resume aos debates sobre a mestiçagem ( Alexandre, 1999; Castelo, 1998), mas a ¿adversidade ao mestiçamento¿ (Correia, 1940, p. 20), que caracterizava as posições de Mendes Correia (1934;1940) e de Eusébio Tamagnini (1944), não terá sido alheia à recepção inicial das ideias luso-tropicalistas na sociedade portuguesa. É certo que, ao debatermos, hoje, essas questões, o fazemos a partir de outros paradigmas, noutro contexto socio-político e usando outra linguagem. Mas, para além do debate sobre a pertinência de algumas propostas do luso-tropicalismo ou do hispano-tropicalismo, as concepções daqueles autores merecem a atenção da psicologia, em especial da psicologia social. De facto, apropriadas e transformadas pelo senso comum, elas continuam a marcar saberes, discursos e práticas sociais, quer sobre a mestiçagem, quer sobre as representações de uma identidade especificamente ¿lusa¿ ou até ¿hispânica¿.
Se as normas sociais, concepções científicas e discursos político-ideológicos actualmente dominantes se encontram mais próximos das posições de Freyre que das de Correia ou de Tamagnini, as concepções destes autores não deixam de circular sob a forma de ¿representações mágicas¿ (Taguieff, 1987; Lemaine e Matalon, 1985) objectivadas na ¿mistura do sangue¿.
Pela importância destas questões nas sociedades europeias contemporâneas, poderá ser útil para a psicologia ¿revisitar¿ aqueles autores, nomeadamente, no domínio dos estudos sobre a diversidade cultural, a xenofobia e a identidade.