Monica Gomes Teixeira Campello de Souza, Bruno Campello de Souza, Edson Soares Silva, Antonio Roazzi, Enaile Drielly Soares dos Santos Silva, Francisco Xavier de Oliveira Neto, Isabely Andrade Lustosa da Silveira, José Alexandre de Andrade Ferreira, Mayara Evellyn Oliveira de Souza, Ozilda Pereira Ribeiro, Ricardo Luiz da Silva Elihimas, Stéphanie Monick Zumba de Lima Ayres, Wilson Jordão de Oliveira Romão, Jennyfer Fekete Ferreira, Thaciana Galba de Ramos de Souza Passo
Após um período de forte queda iniciado em 2007, em paralelo com a implantação do Pacto Pela Vida, os índices oficiais de homicídio de Pernambuco tem experimentado um notável aumento a partir do ano de 2014. Segundo relatórios e declarações da Secretaria de Defesa Social (SDS) do Governo do Estado, a maior parte desses crimes ocorre entre presidiários, ex-presidiários e membros do crime organizado, especialmente traficantes de drogas. Isso contradiz os achados de diversos estudos acerca dos mecanismos e processos psicossociais subjacentes aos crimes violentos letais no Nordeste e em Pernambuco, a maior parte dos quais tende a apontar uma "cultura da honra" e uma ausência de governo como as principais causas. Tem-se ainda o fato de existir uma notória falta de transparência e acesso quanto aos dados acerca dos homicídios no estado. Dado tudo isso, o presente trabalho propõe-se a identificar o perfil das vítimas e autores dos homicídios na Região Metropolitana do Recife, incluindo as circunstâncias e motivos de tais crimes e sua relevância, a partir das vivências diretas da população, ou seja, suas experiências com a ocorrência de homicídio de membro da família, de pessoa conhecida fora da família e com o contato pessoal com autor de homicídio. A partir de uma análise estatística dos dados oriundos da aplicação de um questionário a um total de 608 respondentes da Região Metropolitana do Recife, foram obtidos resultados apontando que: (a) a grande maioria das vítimas não tinha histórico prisional, (b) a grande maioria dos homicídios não envolvia qualquer atividade criminal da parte da vítima ou do autor, inclusive qualquer relação com o narcotráfico, (c) na grande maioria dos homicídios, a vítima não fez por merecer o crime realizado contra ela, (d) o perfil das vítimas era de uma vasta maioria do sexo masculino, idade entre 15 e 44 anos, com quase metade dos crimes envolvendo disputas pessoais e outros elementos não criminais, (e) os homicídios em Pernambuco são tidos pela população como sendo um problema social bastante grave e mal resolvido pelo governo estadual. Esses achados levam a concluir que o discurso oficial do Governo de Pernambuco acerca dos homicídios no estado é inconsistente com a experiência da população e consistentes com estudos anteriores acerca do assunto. Ao final, são apresentadas implicações e sugestões.
Palavras Chave: Homicídios, Pernambuco, Criminologia, Cultura da Honra, Narcotráfico